segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Desonra e Punição

Este escriba em sua passagem de visita à Universidade de Salamanca, Espanha 2011. 
A tarja preta foi colocada em razão da vergonha e desonra  que ele tem causado à sua família.

Desde que deixei o evangelho passei a ser considerado pela minha família motivo de vergonha e desonra. Até aí tudo bem. O problema é que a doutrina evangélica prevê punições para meu caso. E se não preveem punições de maneira clara, há sempre uma interpretação bíblica para criar uma.

"Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá. (Efésios 6,2-3)
Honra a teu pai e a tua mãe (que é o primeiro mandamento com promessa), para que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra. "

Portanto, para quem os desonra, estão reservados poucos dias de vida e uma vida desgraçacamente ruim.
Tenho trabalhado e conseguido sucesso na minha profissão e com isso realizado alguns dos meus sonhos particulares. Acontece que sei que do lado do mal (evangélicos em geral) a torcida para que eu me estrepe é grande. Todos esperam minha derrota humilhante, para provar depois com a satisfação divina e sorriso nos lábios que eu estava errado e que deus me traria a punição como ele prometeu.

Quanto a viver muito ou pouco, isso é relativo. Viver 80 anos com doenças, traumas, infelicidades, não compensa 60 ou 40 de uma vida preenchida com sonhos que tenham sido realizados. E nisso a bíblia foi incompleta, transmitindo a falsa impressão de que quantidade é o que importa. Ludwig van Beethoven morreu aos 57 anos.  Mozart se foi aos 36. Claro que viver muito deve ser legal. Mas isso não cabe a nós decidir. Pior ainda é declarar que a morte "prematura" de alguém foi ato de punição divina. Bom, de qualquer maneira, a torcida evangélica continua firme para que eu deixe esta e vá para a melhor rapidinho. O engraçado é que eles dizem que não me desejam o mal. O mal que eles torcem para que venha até mim será apenas uma consequencia da minha "rebeldia" contra deus.

Daqui a algum tempo vou ter tratado estes problemas com um psicólogo ou psiquiatra. Este post reflete uma mania de perseguição, eu sei. Mas em breve vou me livrar desta opressão do evangelho.

...nunca se desviará dele.

"Ensina a criança no caminho em que deve andar, e ainda quando for velho NUNCA SE DESVIARÁ dele."


Este verso de Proverbios era considerado mais uma das promessas "infalíveis" de deus em "sua" bíblia. Desde criança fui educado NO caminho em que deveria andar. Para meus pais, essa promessa biblica era a garantia de que seus filhos jamais deixariam de trilhar os caminhos do evangelho. E depois de mais de 3 décadas de sofrimento, tentando ser algo que não sou, deixei a igreja Batista (no Brasil ) e a Assembly of God) na Australia.

É engraçado como depois de confrontados com a "quebra" desta promessa, todos meus queridos evangélicos tentaram usar o recurso de sempre: adaptar interpretações a fim de atender às suas conveniências. E duas explicações apareceram:

1 - Eu tenho livre arbítrio para decidir sobre minha vida e portanto existiria a probabilidade de eu me desviar. O problema é que esse fato não justifica a quebra da "promessa" de que eu NUNCA iria me desviar.

2 - A outra é a de que ainda há tempo para que eu volte ao evangelho, o que tambem não atenua a situação: mesmo que eu ainda volte para a igreja evangélica, eu já terei quebrado a promessa, já que eu me desviei, contrariando a garantia de que isto NUNCA aconteceria.Não há nenhuma parte da bíblia que, como uma cláusula contratual, diz que essa promessa continua válida se eu me desviar mas voltar aos caminhos da sã (?) doutrina.

OBS: Não está nos meus planos de curto, médio e longo prazos voltar a ser evangélico ou cristão.